domingo, 16 de outubro de 2005

Citação íntima: Francesco Alberoni

"Boa parte da nossa vida decorre como se fosse pouco real, um quase-sonho ou uma quase-realidade. Vivemos de hábitos e de convenções, de crenças que nos foram contadas por outros, de opiniões, de boas maneiras, de pequenas e grande mentiras. Não sabemos nunca se o trabalho que fazemos nos agrada realmente, se estamos sinceramente afeiçoados a alguém. Damo-nos conta da existência de uma realidade objectiva apenas em certos momentos, quando estamos contra ela ou quando, milagrosamente, se nos revela. O mundo existe apenas porque há estes momentos fortes. Se eles não existissem, se a vida quotidiana fosse sempre idêntica a si própria, monótona, banal, sem risco, sem perigo, sem revelações, então seria tudo como um sono. E já não saberíamos o tempo, nem a diferença entre a verdade e mentira, entre autêntico e falso. A vida do animal é, por certo, assim, porque ele segue a sua natureza e não tem necessidades de a procurar ou encontra.
Nós não. Nós, espécie humana, perdemos a nossa natureza. Talvez seja esse o pecado original. A perda aconteceu quando, sobre os antigos cérebro apareceu, por mutação, o novo córtex. E porque perdemos a nossa natureza, construímo-nos uma social e cultural, que de alguma maneira depois se torna sempre arbitrária e artificial. Eis então essa impressão de irrealidade, de quase-sonho ou de quase-realidade."

4 comentários:

mfc disse...

A aculturação que sofremos transformou-nos noutros seres, talvez mais irreais, na medida em que desapareceu um pouco o animal que somos... Mas de repente ele assoma-se de novo em nós em determinados períodos.

Anónimo disse...

Eu ainda tenho um animal dentro de mim (salvo seja!). ;)

bueno disse...

semprei achei que sao os animais, na verdade, os seres mais desenvolvidos. sao autenticos, e tem um estilo de vida muito mais natural do que o nosso.

Preciouzzz disse...

bom dia

beijos, muitos